A entorse de tornozelo é uma das lesões mais comuns entre atletas e pessoas fisicamente ativas. Ela ocorre quando há um estiramento ou ruptura dos ligamentos que estabilizam a articulação do tornozelo, geralmente como resultado de uma torção brusca, queda ou movimento inadequado. Embora seja tratada como uma lesão simples, a entorse mal conduzida pode evoluir para uma instabilidade crônica, dor recorrente e limitação funcional.
A fisioterapia apresenta um papel fundamental nesse cenário, não apenas para a aceleração da recuperação, como também para evitar complicações a longo prazo. Saber o momento de iniciar o tratamento e entender quais são as etapas mais importantes faz toda a diferença no retorno seguro às atividades físicas.
Primeiras 48 horas: o que fazer antes de iniciar a fisioterapia
Logo após a entorse, o corpo entra em um processo inflamatório natural. Por esse motivo, o tornozelo passa a apresentar dor intensa, inchaço, hematoma e limitação de movimento. Nessa fase mais aguda, o ideal é controlar os sintomas, proteger a articulação e evitar sobrecarga.
A aplicação de gelo nas primeiras 48 horas ajuda a reduzir o inchaço e a dor. O uso de bandagem compressiva e a elevação do pé acima do nível do coração são fundamentais para controlar o edema. Dependendo do grau da lesão, pode ser necessário o uso de imobilizadores, como botas ortopédicas ou tornozeleiras.
Nessa fase, o fisioterapeuta pode ser consultado para orientações de cuidados iniciais. Em alguns casos, já é possível iniciar mobilizações passivas suaves, exercícios de amplitude de movimento e contrações isométricas leves. O objetivo é favorecer o retorno da circulação e evitar a atrofia precoce.
A avaliação médica é fundamental para determinar o grau da entorse e iniciar o tratamento o quanto antes. Casos com suspeita de fratura, dor intensa persistente ou incapacidade total de apoio devem ser investigados com exames complementares antes de qualquer tipo de intervenção.
Quando iniciar a fisioterapia esportiva: o tempo ideal para cada caso
O início da fisioterapia esportiva depende da gravidade da entorse e da resposta individual do paciente. De modo geral, quanto antes for iniciado o tratamento, melhores serão os resultados. Nas entorses leves (grau I), é possível começar a fisioterapia dentro de 24 a 72 horas após o trauma. Nos casos moderados (grau II), esse período pode se estender até 5 a 7 dias. Entorses graves (grau III), com rompimento total de ligamentos, podem exigir mais tempo de imobilização antes do início das atividades terapêuticas.
É importante lembrar que a fisioterapia não deve esperar o fim da dor para iniciar. O tratamento deve ser ajustado ao quadro do paciente e à fase de cicatrização. No início, o foco está no controle da dor e do edema; em seguida, o tratamento evolui para fortalecimento e reeducação funcional.
Outro fator importante é a avaliação funcional, que permite identificar déficits de equilíbrio, propriocepção e controle motor. Mesmo quando o paciente já não sente dor, ele pode apresentar déficits ocultos que aumentam o risco de novas lesões. A fisioterapia esportiva atua na correção desses pontos antes da liberação para as atividades mais intensas.
Tratamento em fases: da cicatrização à reabilitação esportiva
A fisioterapia esportiva para entorse de tornozelo segue um plano progressivo, dividido em fases que respeitam o tempo de cicatrização e os objetivos do paciente. Cada fase apresenta metas específicas e progressão individualizada, de acordo com a resposta ao tratamento.
Na fase aguda (entre o 1º e o 5º dia), o foco é a redução da dor, do inchaço, manutenção da mobilidade e ativação muscular leve. São usados recursos como crioterapia, drenagem linfática, exercícios passivos e eletroterapia.
Na fase subaguda (entre os dias 5 e 14), começam os exercícios ativos, isométricos e o treino de equilíbrio estático. O uso de superfícies instáveis, como discos ou pranchas, já pode ser introduzido com cautela para trabalhar a propriocepção. Exercícios de resistência para os músculos do pé, tornozelo e panturrilha também são indispensáveis.
Na fase funcional (entre 2 e 6 semanas), são introduzidos o fortalecimento dinâmico, treino de agilidade e reeducação dos padrões de movimento. Corridas leves, saltos controlados e exercícios em escada fazem parte da rotina, respeitando a evolução do paciente.
A fase de retorno ao esporte acontece a partir da 6ª semana, envolvendo simulações reais de gestos esportivos, testes de estabilidade e recondicionamento físico. O fisioterapeuta avalia força, mobilidade e controle motor antes de liberar o paciente para a prática esportiva.
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Prevenção de recidivas: como evitar novas entorses no futuro
Pacientes que já sofreram uma entorse de tornozelo têm maior risco de novas lesões, especialmente se o tratamento for incompleto ou mal conduzido. A fisioterapia esportiva atua também na prevenção, corrigindo déficits biomecânicos e criando estratégias para proteger a articulação durante a prática do esporte.
O fortalecimento contínuo dos músculos estabilizadores — como fibulares, gastrocnêmio e tibial posterior — é essencial. Exercícios funcionais que desafiem o equilíbrio e o tempo de reação devem ser incorporados mesmo após a alta clínica. Treinos com olhos fechados, mudanças rápidas de direção e superfícies irregulares fazem parte do plano de prevenção.
Também é importante avaliar a mecânica dos membros superiores e inferiores como um todo. Muitas vezes, alterações no quadril ou joelho influenciam a estabilidade do tornozelo. Nesse sentido, o padrão de pisada, o alinhamento postural e a mobilidade do tornozelo precisam ser monitorados regularmente.
Fitas de suporte e tornozeleiras durante atividades esportivas de alto impacto podem ser indicadas, principalmente nos primeiros meses após a lesão. No entanto, essas medidas devem ser combinadas com fortalecimento e treino de estabilidade, para que o paciente não desenvolva dependência desses dispositivos.
Não é preciso conviver com dor, insegurança ou medo de praticar esportes após uma entorse de tornozelo. Com o protocolo correto de fisioterapia esportiva, é possível recuperar completamente a função da articulação, reduzir o risco de novas lesões e voltar às atividades com confiança.
Se você sofreu uma entorse de tornozelo, não espere os sintomas passarem sozinhos. Procure um fisioterapeuta esportivo o quanto antes e invista em uma reabilitação completa. Agende sua consulta!